Parte dois
Como toda vez que ela via Frank, o coração de Hazel saltou uma
batida e realizou um pouco de sapateado — o que realmente a irritava.
Claro, ele era um bom amigo — uma das únicas pessoas no acampamento
que não a tratava como se ela tivesse uma doença contagiosa. Mas ela não
gostava dele dessa maneira.
Ele
era três anos mais velho do que ela, e ele não era exatamente
um Príncipe Encantado, com essa combinação estranha de rosto de bebê e
corpo maciço de lutador de luta-livre. Ele parecia um coala fofinho com
músculos. O fato de que todo mundo sempre tentou juntá-los — os dois
maiores perdedores no acampamento! Vocês são perfeitos um para o outro
— apenas fazia Hazel mais determinada a não gostar dele.
Mas
seu coração não agia como planejado. Ele ficava louco sempre
que Frank estava por perto. Ela não tinha se sentido assim desde... Bem,
desde Sammy.
Pare
com isso, ela pensou. Você está aqui por uma razão — e não é
para arranjar um novo namorado.
Além
disso, Frank não sabia de seu segredo. Se ele soubesse, ele
não seria tão legal com ela.
Ele
chegou ao santuário. — Hey, Nico...
—
Frank. — Nico sorriu. Ele parecia achar Frank engraçado,
talvez porque Frank fosse o único no acampamento que não era apreensivo
perto dos filhos de Plutão.
—
Reyna me enviou para buscar Percy, — Frank disse. —
Octavian aceitou você?
—
Sim, — Percy disse. — Ele trucidou meu panda.
—
Ele... Oh. O presságio? Sim, ursos de pelúcia devem ter
pesadelos com aquele cara. Mas você está dentro! Precisamos deixá-lo
limpo
antes da reunião noturna.
Hazel
percebeu que o sol estava ficando baixo sobre as colinas.
Como o dia havia passado tão rápido?
—
Você está certo, — ela disse. — É melhor que nós...
—
Frank, — Nico interrompeu, — por que você não leva Percy
para baixo? Hazel e eu alcançaremos vocês logo.
Uh-Oh, Hazel pensou. Ela tentou não parecer ansiosa.
—
Essa é... essa é uma boa ideia, — ela conseguiu dizer. — Vão
na frente, pessoal. Nós vamos alcançá-los.
Percy
olhou para Nico mais uma vez, como se ele ainda estivesse
tentando reconhecer uma memória.
— Eu
gostaria de falar com você um pouco mais. Não posso
afastar a sensação de...
—
Claro, — Nico concordou. — Mais tarde. Eu vou ficar durante a
noite.
—
Você vai? — Hazel disse abruptamente. Os campistas estavam
amando isso - o filho de Netuno e o filho de Plutão chegando no mesmo
dia.
Agora tudo o que eles precisavam era de mais alguns gatos pretos e
espelhos
quebrados.
— Vá
em frente, Percy, — Nico disse. — Acomode-se. — Ele se
virou para Hazel, e ela teve a sensação de que a pior parte do dia ainda
estava por vir. — Minha irmã e eu precisamos conversar.
—
Você o conhece, não é? — Hazel disse.
Eles
se sentaram no telhado do Santuário de Plutão, que era
coberto de ossos e diamantes. Tanto quanto Hazel sabia, os ossos sempre
estiveram ali. Os diamantes eram culpa dela. Se ela se sentasse em
qualquer
lugar por muito tempo, ou apenas ficasse ansiosa, eles começariam a
aparecer ao seu redor como cogumelos depois de uma chuva. Vários milhões
de dólares de pedras brilhavam no telhado, mas felizmente os outros
campistas não tocariam neles. Eles sabiam mais do que roubar templos —
especialmente o de Plutão — e os faunos nunca viriam aqui em cima.
Hazel estremeceu, lembrando sua chamada próxima de Don
naquela tarde. Se ela não tivesse se movido rapidamente e apanhado
aquele
diamante da estrada... ela não queria pensar nisso. Ela não precisava de
outra
morte em sua consciência.
Nico
balançou seus pés como uma criança pequena. Sua espada de
ferro estígio estava ao seu lado, próxima à spatha * (A spatha era um tipo
de
espada
reta, medindo entre 0,75 e 1m, usado no território do império romano.) de Hazel. Ele
contemplou o vale, onde equipes de construção estavam trabalhando no
Campo de Marte, construindo fortificações para os jogos desta noite.
—
Percy Jackson. — Ele disse o nome como um encantamento. —
Hazel, eu tenho que ser cuidadoso com o que eu digo. Coisas importantes
estão em jogo aqui. Alguns segredos precisam permanecer em segredo. Você
de todas as pessoas — deve entender isso.
As
bochechas de Hazel ficaram quentes. — Mas ele não é como...
como eu?
—
Não, — Nico disse. — Sinto muito, eu não posso te contar
mais. Não posso interferir. Percy tem que encontrar seu próprio caminho
neste acampamento.
— Ele
é perigoso? — Ela perguntou.
Nico
conseguiu dar um sorriso seco. — Muito. Para seus inimigos.
Mas ele não é uma ameaça para o Acampamento Júpiter. Você pode confiar
nele.
—
Como eu confio em você, — Hazel disse amargamente.
Nico
torceu seu anel de caveira. Ao seu redor, ossos começaram a
tremer como se estivessem tentando formar um novo esqueleto. Sempre que
ele ficava mal-humorado, Nico tinha esse efeito na morte, uma espécie de
maldição como a de Hazel. Entre eles, representavam duas esferas de
controle de Plutão: morte e riquezas. Às vezes Hazel pensava que Nico
tinha
conseguido a melhor parte.
—
Olha, eu sei que é difícil, — Nico disse. — Mas você tem uma
segunda chance. Você pode fazer as coisas de maneira certa.
—
Nada sobre isso é certo, — Hazel disse. — Se eles descobrirem
a verdade sobre mim...
—
Eles não vão, — Nico prometeu. — Eles vão ser chamados para
uma missão em breve. Eles têm que ser chamados. Você vai me deixar
orgulhoso, Bi...
Ele
se conteve, mas Hazel sabia do que ele quase a havia chamado:
Bianca. A verdadeira irmã de Nico — aquela que havia crescido com ele.
Nico poderia se preocupar com Hazel, mas ela nunca seria Bianca. Hazel
era
simplesmente a coisa mais próxima que Nico poderia conseguir — um
prêmio de consolação do Mundo Inferior.
—
Sinto muito, — ele disse.
A
boca de Hazel ficou com gosto de metal, como se pepitas de
ouro fossem aparecendo debaixo de sua língua. — Então é verdade sobre a
Morte? É culpa de Alcioneu?
—
Acho que sim, — Nico disse. — Está ficando ruim no Mundo
Inferior. Papai está enlouquecendo tentando manter as coisas sob
controle.
Pelo que Percy disse sobre as górgonas, as coisas estão piorando até
aqui,
também. Mas olha, é por isso que você está aqui. Todas essas coisas no
seu
passado — Você pode fazer algo bom sair disso. Você pertence ao
Acampamento Júpiter.
Isso
soou um tanto ridículo, Hazel quase riu. Ela não pertencia a
esse lugar. Ela nem pertencia à esse século.
Ela
deveria ter sabido melhor do que focar no passado, mas ela se
lembrava do dia em que sua antiga vida havia sido destruída. A escuridão
a
atingiu tão de repente, ela nem mesmo teve tempo de dizer, Oh-oh. Ela
voltou no tempo. Não um sonho ou uma visão. A memória veio sobre ela
com uma clareza perfeita, ela sentiu que estava verdadeiramente ali.
No
seu aniversário mais recente. Ela havia apenas feito 13. Mas
não dezembro passado — em 17 de dezembro de 1941, o último dia que ela
viveu em Nova Orleans.
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