quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Filho de Netuno III

Capítulo III
Parte UM


III





PERCY NÃO TINHA MEDO DE FANTASMAS, o que era bom. Metade
das pessoas no acampamento estavam mortas.
             Guerreiros de roxo cintilante estavam parados do lado de fora do
arsenal, polindo espadas fantasmagóricas. Outros andavam na frente do
quartel. Um menino fantasma perseguia um cachorro fantasma pela rua. E
nos estábulos, um cara grandalhão de brilho vermelho com cabeça de um
lobo cuidava de uma manada de… aquilo eram unicórnios?
             Nenhum dos campistas prestava muita atenção nos fantasmas, mas
enquanto a comitiva de Percy caminhava, com Reyna na liderança e Frank e
Hazel de cada lado, todos os espíritos pararam o que estavam fazendo e
encararam Percy. Alguns pareceram zangados. O menininho fantasma gritou
algo como greggus! e ficou invisível.
             Percy também queria poder ficar invisível. Depois de algumas
semanas sozinho, toda aquela atenção o deixava apreensivo. Ele ficou entre
Hazel e Frank e tentou parecer invisível.
             — Estou vendo coisas? — Ele perguntou. — Ou eles são…
             — Fantasmas? — Hazel se virou. Ela tinha olhos assustadores, como
catorze quilates de ouro. — São lares. Deuses da casa.
             — Deuses da casa. — Percy disse. — Tipo… Menores que os
verdadeiros deuses, mas maiores que os deuses de apartamento?
             — São espíritos ancestrais. — Frank explicou. Ele havia tirado seu
elmo, revelando um rosto infantil que não combinava com o corte de cabelo
militar ou seu corpo robusto. Ele parecia uma criança que tinha tomado
esteróides e entrado para a Marinha. — Os lares são um tipo de mascotes. —
Ele continuou. — Na maior parte do tempo eles são inofensivos, mas nunca
os tinha visto tão agitados.
             — Eles estão olhando para mim. — Percy disse. — Um fantasma
criança me chamou de greggus. Meu nome não é Greg.
             — Graecus. — Hazel disse. — Assim que se acostumar em estar
aqui, vai começar a entender latim. Semideuses tem um talento natural para
isso. Graecus significa grego.
             — Isso é ruim? — Percy perguntou.
             Frank limpou a garganta.
             — Talvez não. Você tem esse tipo de aparência, o cabelo escuro e
tudo. Talvez eles achem que na verdade você é grego. Sua família é de lá?
             — Não faço ideia. Como eu disse, minha memória sumiu.
             — Ou talvez… — Frank hesitou.
             — O quê? — Percy perguntou.
             — Acho que nada. — Frank disse. — Os romanos e gregos tinham
uma antiga rivalidade. Às vezes romanos usam graecus como um insulto
para alguém estranho… Um inimigo. Não me preocuparia com isso.
             Ele soou bem preocupado.
             Eles pararam no meio do acampamento, onde duas ruas se uniam em
um T. Uma placa rotulava uma rua como via praetoria. A outra rua,
atravessando o meio do acampamento, estava rotulada como via principalis.
Debaixo dos marcadores estavam placas pintadas à mão como BERKELEY
A 8 QUILÔMETROS; NOVA ROMA A 1,6 QUILÔMETROS; ROMA
ANTIGA A 11648 QUILÔMETROS; HADES A 3696 QUILÔMETROS
(apontando diretamente para baixo); RENO A 332 QUILÔMETROS, E
MORTE CERTA: VOCÊ ESTÁ AQUI!
             Para uma morte certa, o lugar parecia bem limpo e ordenado. Os
prédios eram caiados, arrumados com exagero como se o acampamento
tivesse sido projetado por um professor de matemática espalhafatoso. Os
quartéis tinham varandas sombrias, onde os campistas descansavam em
redes, jogavam cartas e tomavam refrigerante. Cada dormitório tinha uma
coleção diferente na frente mostrando algarismos romanos e vários animais
— águia, urso, lobo, cavalo, e algo que parecia um hamster.
             Junto da Via Praetoria, filas de lojas anunciavam comida, armadura,
armas, café, equipamentos de gladiador e retalhos de toga. Uma
concessionária de bigas tinha um grande anúncio na frente: CAESAR XLS
COM FREIO AUTOMÁTICO, NENHUM DENÁRIO * (O denário era parte
do sistema monetário romano. Uma pequena moeda de prata que era a de maior
circulação no Império.) A MENOS!
             Em um canto da calçada estava o prédio mais impressionante —
uma cunha de dois andares, feita de mármore branco, com pórticos de
colunas, como um banco à moda antiga. Guardas romanos estavam em frente
a ele. Em cima da porta, estava um cartaz grande e roxo com letras SPQR *
(SPQR é uma abreviação para a frase latina Senatus Populusque Romanus. A
tradução é “O Senado e o Povo Romano”.A frase era inscrita nos estandartes das
 legiões romanas e era o nome oficial do Império Romano.)
douradas bordadas dentro de uma coroa de louros.

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