Parte três
Reyna o estudou.
— Você é velho para um recruta. Tem o quê, dezesseis?
— Por aí — Percy respondeu.
— Se você perdeu tantos anos sozinho, sem treino ou ajuda, devia
estar morto. Um filho de Netuno? Você deveria ter uma aura poderosa que
atrairia todos os tipos de monstros.
— É. — Percy disse. — Fui avisado sobre esse cheiro.
Reyna quase sorriu para ele, o que deu esperança a Percy. Talvez ela
fosse humana, afinal de contas.
— Você deve ter ficado em algum lugar antes da Casa dos Lobos. —
Ela disse.
Percy encolheu os ombros. Juno havia dito alguma coisa sobre ele
estar adormecido, e ele tinha uma sensação vaga que ele tinha ficado mesmo
– talvez por um bom tempo. Mas isso não fazia sentido.
Reyna suspirou.
— Bem, os cachorros não te comeram, então acho que está falando a
verdade.
— Ótimo. — Percy disse. — Da próxima vez, posso passar pelo
polígrafo?
Reyna se levantou. Ela passeou na frente dos cartazes. Seus
cachorros de metal a viam ir e voltar.
— Mesmo se eu aceitar que você não é um inimigo. — Ela disse. —
Você não é um recruta comum. A Rainha do Olimpo simplesmente não
aparece no acampamento, anunciando um novo semideus. Da última vez que
um deus maior nos visitou em pessoa foi… — Ela balançou a cabeça. — Só
ouvi lendas sobre essas coisas. E um filho de Netuno… não é um bom
presságio. Especialmente agora.
— O que há de errado com Netuno? — Percy perguntou. — E o que
quer dizer com especialmente agora?
Hazel deu a ele um olhar de aviso.
Reyna continuou passeando.
— Você lutou com as irmãs da Medusa, que não tem sido vistas há
milhares de anos. Você agitou nossos Lares, que estão te chamando de
graecus. Você veste símbolos estranhos – essa camisa, as contas no seu
pescoço. O que querem dizer?
Percy olhou para sua camiseta laranja esfarrapada. Devia ter tido
palavras alguma vez, mas estavam muito desbotadas para ler. Ele deveria ter
jogado a camisa fora algumas semanas atrás. Estava em pedaços, mas não
conseguia suportar a idéia de se livrar disso. Só ficou lavando-a em córregos
e fontes de água da melhor maneira que conseguia e a colocando de volta.
Quanto ao colar, cada uma das quatro contas de argila estava
decorada com um símbolo diferente. Uma mostrava um tridente. Outra era
uma miniatura do Velocino de Ouro. A terceira estava gravada com o
desenho de um labirinto, e a última tinha a imagem de um prédio – talvez o
Empire State Building? – com nomes gravados ao redor que Percy não
reconheceu. As contas pareciam importantes, como fotos de um álbum de
família, mas ele não conseguiu se lembrar do que significavam.
— Não sei. — Ele disse.
— E sua espada? — Reyna perguntou.
Percy checou o bolso. A caneta havia reaparecido como sempre. Ele
pegou-a, mas então percebeu que nunca tinha mostrado a espada para Reyna.
Nem mesmo Hazel e Frank a tinham visto. Como Reyna sabia sobre ela?
Tarde demais para fingir que ela não existia… ele destampou a
caneta. Contracorrente apareceu inteira. Hazel ofegou. Os galgos rosnaram
apreensivamente.
— O que é isso? — Hazel perguntou. — Nunca tinha visto uma
espada assim.
— Eu já. — Reyna disse sombriamente. — É muito antiga… um
modelo grego. Costumávamos ter algumas no arsenal antes de… — Ela
parou. — O metal é chamado bronze celestial. É mortal para monstros, como
o ouro imperial, mas muito raro.
— Ouro imperial? — Percy perguntou.
Reyna desembainhou a adaga. Com certeza a lâmina era de ouro.
— O metal foi consagrado nos tempos antigos, no Panteão de Roma.
Sua existência era rigorosamente guardada em segredo dos imperadores –
um jeito de seus campeões matarem monstros que ameaçavam o império.
Costumávamos ter mais armas como essa, mas agora… bem, nós as
riscamos da lista. Eu uso essa adaga. Hazel tem uma spatha, uma espada de
cavalgaria. Mas essa sua arma não é romana, de qualquer modo. É outro
sinal que você não é um semideus comum. E seu braço…
— O que tem? — Percy perguntou.
Reyna ergueu seu próprio antebraço. Percy não tinha notado antes,
mas ela tinha uma tatuagem: as letras SPQR, espadas cruzadas e uma tocha,
e debaixo disso, quatro linhas paralelas como códigos de barra.
Percy olhou para Hazel.
— Todos a temos. — Ela confirmou, erguendo seu braço. — Todos
os membros completos da legião têm.
A tatuagem de Hazel também tinha as letras SPQR, Mas ela só tinha
um código de barra, e seu emblema era diferente: um grifo preto como uma
cruz com os braços curvos e uma cabeça:
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