quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Filho de Netuno II


Capítulo II
Parte Dois

Mais acima da colina, as górgonas estavam pulando sobre o telhado
do apartamento. Três minutos de distância – talvez menos.
             Parte dele queria correr para a porta da colina. Ele teria que entrar no
meio da rodovia, mas então seria uma corrida curta. Ele podia fazer isso
antes das górgonas alcançarem-no.
             Parte dele queria rumar a oeste para o oceano. Era onde ele estaria a
salvo. Era onde seu poder seria maior. Aqueles guardas romanos na porta
deixavam-no preocupado. Algo dentro dele dizia: Esse não é meu território.
Isso é perigoso.
             — Você está certo, é claro. — Disse uma voz perto dele.
             Percy pulou. Primeiro ele achou que Beano tinha se esgueirado
sorrateiramente até ele, mas a senhora sentada nos arbustos era até mais
repulsiva que a górgona. Ela parecia uma hippie que tinha sido chutada para
o lado da estrada talvez há quarenta anos atrás, onde esteve colecionando
lixo e trapos desde então. Ela usava um vestido feito de tecido tie-dye
* (Técnica para tingir tecidos. Significa “Amarrar e Tingir”.Tye-Dye esteve na moda
entre as décadas de 1960 e 1970,entre os adeptos do movimento hippie.),
mantas rasgadas e sacos de plástico de supermercado. Seus tufos de cabelo
crespo eram marrom-cinzentos, como espuma de root bear *(Bebida não alcoólica
comum nos EUA, feita à base de extrato de raízes.), amarrados para
trás com uma faixa com o sinal da paz. Verrugas cobriam seu rosto. Quando
ela sorriu, mostrou exatamente três dentes.
             — Não é um túnel em manutenção. — Confessou. — É a entrada
para o acampamento.
             Um estremecimento subiu pela espinha de Percy. Acampamento. É,
era de onde ele veio. Um acampamento. Talvez essa fosse sua casa. Talvez
Annabeth estivesse por perto.
             Mas algo parecia errado.
             As górgonas ainda estavam no telhado do apartamento. Então
Stheno gritou de alegria e apontou na direção de Percy.
             A velha hippie ergueu as sobrancelhas.
             — Não há muito tempo, criança. Você precisa fazer sua escolha.
             — Quem é você? — Percy perguntou, pensando que não tinha
certeza se queria saber. A última coisa que precisava era de outra mortal
inofensiva que se transformava em um monstro.
             — Ah, pode me chamar de Juno. — Os olhos da senhora cintilaram
como se tivesse feito uma piada excelente. — É Junho, não é? Eles
nomearam o mês por minha causa!
             — Certo... Olha, tenho que ir. Duas górgonas estão vindo. Não quero
que elas te machuquem.
             Juno cruzou as mãos sobre o coração.
             — Que fofo! Mas isso faz parte de sua escolha!
             — Minha escolha...
             Percy olhou nervoso na direção da colina. As górgonas tinham tirado
as vestes verdes. Asas saíram de suas costas – pequenas asas de morcego,
que brilhavam como bronze.
             Desde quando elas tinham asas? Talvez fossem decorações. Talvez
fossem muito pequenas para erguer uma górgona no ar. Então as duas irmãs
saltaram do apartamento e dispararam na direção dele.
Legal. Muito legal.
             — Sim, uma escolha. — Juno disse, como se estivesse sem pressa.
— Pode me deixar aqui à mercê das górgonas e ir para o oceano. Chegaria lá
com segurança, eu garanto. As górgonas ficarão bem felizes de me atacar e
te deixar ir. No mar, nenhum monstro vai incomodá-lo. Estará seguro no
fundo do mar. Pode começar uma nova vida, viver até a maturidade, e
escapar de uma grande dose de dor e sofrimento que está em seu futuro.
             Percy tinha certeza de que não iria gostar da segunda opção.
             — Ou?
             — Ou você pode fazer um favor para uma velha senhora. Carregue-me
para o acampamento com você.
             — Carregar você?
             Percy esperava que ela estivesse brincando. Então Juno arrumou a
saia e o mostrou o pé inchado e roxo.
             — Não posso chegar lá sozinha. — Disse ela. — Me carregue para o
acampamento do outro lado da rodovia, pelo túnel, e do outro lado do rio.
             Percy não sabia o que ela queria dizer com rio, mas isso não parecia
ser fácil. Juno parecia ser muito pesada. As górgonas estavam a apenas 80
metros de distância agora, deslizando na direção dele porque sabiam que a
caça estava quase acabada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário