quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Filho de Netuno IV

Capítulo IV
Parte III


O fauno suspirou.
            — Ah, não consigo ficar bravo com você. Mas eu juro, é como se
você desse boa sorte. Toda vez que você caminha por...
            — Até logo, Don — Hazel disse rapidamente. — Vamos, Percy.
            Ela começou a correr. Percy teve de correr para acompanhá-la.
            — O que foi aquilo? — Percy perguntou. — O diamante na
estrada...
            — Por favor — ela disse. — Não pergunte.
            Eles andaram em silêncio pelo resto do caminho para o Templo da
Colina. Um caminho de pedra torto levava a uma variedade maluca de
pequenos altares e grandes abóbadas. As estátuas dos deuses pareciam seguir
Percy com os olhos. Hazel apontou para o Templo de Belona.
            — Deusa da guerra — ela disse. — É a mãe de Reyna.
            Então eles passaram por uma cripta vermelha maciça decorada com
caveiras humanas e estacas de ferro.
            — Por favor, não me diga que vamos entrar aí — Percy disse.
Hazel balançou a cabeça.
            — Esse é o Templo de Marte Ultor.
            — Marte... Ares, o deus da guerra?
            — Esse é seu nome grego — Hazel disse. — Mas é, o mesmo cara.
Ultor significa o Vingador. Ele é o segundo deus mais importante de Roma.
            Percy não ficou empolgado em ouvir isso. Por alguma razão, só de
olhar para aquele prédio vermelho feio o fazia ficar furioso.
            Ele apontou para o topo. Nuvens giravam em volta do templo maior,
um pavilhão redondo com um anel de colunas brancas suportando um
telhado.
            — Esse deve ser de Zeus — hã, quer dizer, de Júpiter? É para onde
estamos indo?
            — É — Hazel soou irritada. — Octavian lê os agouros ali — o
Templo de Júpiter, o Optimus Maximus.
            Percy teve que pensar nisso, mas as palavras em latim trincaram no
inglês.
            — Júpiter... o melhor e maior?
            — Certo.
            — Qual o título de Netuno? — Percy perguntou. — O mais legal e
mais incrível?
            — Hã, nem tanto — Hazel apontou para um prediozinho azul do
tamanho de um barracão de ferramentas. Um tridente coberto de teia de
aranha pendia acima da porta.
            Percy espiou lá dentro. Em um pequeno altar estava uma tigela com
três maçãs secas mofadas.
            Seu coração afundou.
            — Lugar popular.
            — Me desculpe, Percy — Hazel disse — É que... os romanos
sempre tiveram medo do mar. Só usavam navios quando precisavam mesmo.
Mesmo nos tempos modernos, ter um filho de Netuno por aí quase sempre
era um mau presságio. Na última vez que um se juntou à legião... bem isso
foi em 1906 quando o Acampamento Júpiter era localizado do outro lado da
Baía de São Francisco. Houve esse enorme terremoto...
            — Está me dizendo que um filho de Netuno causou isso?
            — É o que dizem — Hazel olhou se desculpando. — De qualquer
jeito... Os romanos respeitam Netuno, mas não o adoram tanto.
            Percy olhou para as teias no tridente. Ótimo, ele pensou. Mesmo se
ele entrasse para o acampamento, ele nunca seria amado. A melhor
esperança era assustar seus novos colegas de acampamento. Talvez se ele
assustasse bem, eles o dessem algumas maçãs mofadas.
            Mesmo assim... de pé no altar de Netuno, ele sentiu alguma coisa
agitando dentro dele, como ondas ondulando por suas veias. Ele tirou o
último pedaço de comida de seu passeio da mochila — uma rosquinha velha.
Não era muito, mas colocou-a no altar.
            — Ei... hã, pai — ele se sentiu bem idiota falando com uma tigela de
frutas. — Se puder me ouvir, me ajuda, está bem? Devolva minha memória.
Me diga... me diga o que fazer.
            Sua voz vacilou. Ele não queria ser emocional, mas estava exausto e
assustado, e esteve perdido por tanto tempo, ele daria qualquer coisa para
alguma orientação, Ele queria saber algo sobre sua vida, sem agarrar
memórias ausentes.
            Hazel colocou a mão em seu ombro.
            — Vai ficar tudo bem. Está aqui agora. Você é um de nós.
            Ele se sentiu estranho, dependendo de uma garota da oitava série que
ele mal conhecia para se consolar, mas estava feliz que ela estivesse ali.
            Acima deles, um trovão retumbou. Uma luz avermelhada preencheu a colina.
            — Octavian está quase acabando — Hazel disse. — Vamos lá.


            Comparado ao galpão de ferramentas de Netuno, o templo de Júpiter
era definitivamente optimus maximus.
            O chão de mármore estava repleto de mosaicos extravagantes e
inscrições em latim. Cento e dez metros acima, o teto de ouro brilhava. O
templo inteiro era ao ar livre. No centro ficava um altar de mármore, onde
um garoto em uma toga estava fazendo algum tipo de ritual na frente de uma
estátua gigante do próprio grandalhão: Júpiter, o deus do céu, vestido em
uma toga púrpura tamanho XXXL, segurando um raio.
            — Não parece ele — Percy murmurou.
            — O quê? — Hazel perguntou.
            — O raio-mestre — Percy disse.
            — Do que você tá falando?
            — Eu... — Percy franziu o cenho. Por um segundo achou ter
lembrado de alguma coisa. Depois se foi. — Nada, eu acho.
            O garoto no altar ergueu os braços. Mais luz avermelhada iluminou
o céu, sacudindo o templo. Então abaixou os braços, e as trovoadas pararam.
            As nuvens viraram de cinza para branco e se desfizeram.
            Um truque muito impressionante, considerando que o garoto não
parecia tão impressionante. Ele era alto e magro, com cabelo cor de palha,
jeans maior que o tamanho, uma camiseta larga e toga caindo. Ele parecia
um espantalho vestindo um lençol.
            — O que ele está fazendo? — Percy murmurou.
            O cara na toga se virou. Ele tinha um sorriso torto e um brilho
maluco nos olhos, como se estivesse jogando videogame intensamente. Em
uma mão segurava uma faca. Na outra alguma coisa parecida com um
animal morto. O que não o fazia parecer menos maluco.
            — Percy — Hazel disse. — esse é Octavian.
            — O graecus! — Octavian anunciou. — Que interessante.
            — Hã, oi — Percy disse. — Você está matando animaizinhos?
            Octavian olhou para a coisa fuzilada na mão e riu.
            — Não, não. Nos tempos antigos, sim. Costumávamos ler a vontade
dos deuses examinando as tripas do animal — galinhas, bodes, esse tipo de
coisa. Hoje em dia, usamos isso.
            Ele passou a coisa mutilada para Percy. Era um ursinho de pelúcia
destripado. Então Percy notou que havia uma pilha de animais de pelúcia
mutilados no pé da estátua de Júpiter.
            — Sério? — Percy perguntou.
            Octavian desceu da plataforma. Ele provavelmente tinha dezoito
anos, mas tão magro e doentiamente pálido, poderia se passar por mais novo.
Primeiro ele pareceu inofensivo, mas quando chegou mais perto, Percy não
teve tanta certeza. Os olhos de Octavian brilhavam com uma curiosidade
chocante, como se devesse destripar Percy tão facilmente quanto um ursinho
e se aprenderia algo com isso.
            Octavian estreitou os olhos.
            — Você parece nervoso.
            — Você me lembra alguém — Percy disse. — Não lembro quem.
            — Provavelmente meu homônimo, Octavian — Augusto César.
Todos dizem que tenho uma notável semelhança.
            Percy não achava que fosse isso, mas não pôde fechar a memória.
            — Você me chamou de o grego?
            — Vi isso nos agouros. — Octavian apontou a faca para a pilha de
estofados no altar. — A mensagem dizia O grego voltou. Ou provavelmente
o ganso chorou. Acho que a primeira interpretação é a correta. Quer entrar
na legião?

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