quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Filho de Netuno IV

Capítulo IV
Parte Quatro


Hazel falou por ele. Ela disse a Octavian tudo o que tinha acontecido
desde quando se conheceram no túnel — as górgonas, a luta no rio, o
aparecimento de Juno, a conversa com Reyna.
            Quando ela mencionou Juno, Octavian pareceu surpreso.
            — Juno — ele refletiu. — A chamamos de Juno Moneta. Juno a
Informadora. Ela aparece em tempos de crise, para aconselhar Roma sobre
grandes ameaças.
            Ele olhou para Percy, como se dissesse: como gregos misteriosos,
por exemplo.
            — Ouvi que a Festa da Fortuna é nessa semana — Percy disse. —
As górgonas avisaram que haveria uma invasão nesse dia. Você viu isso no
seu estofamento?
            — Infelizmente não. — Octavian suspirou. — A vontade dos deuses
está difícil de discernir. E nesses dias, minha visão está realmente escura.
            — Vocês não têm... sei lá — Percy disse — um oráculo ou algo do
tipo?
            — Um oráculo! — Octavian sorriu. — Que ideia fofinha. Não,
receio que estamos com oráculos em falta. Agora, se formos questionar os
livros sibilinos, como recomendei...
            — Os livros sibioquê? — Percy perguntou.
            — Livros de profecia — Hazel disse — que Octavian é obcecado.
Os romanos costumavam consultá-los quando desastres aconteciam. A
maioria acredita que eles foram queimados quando Roma caiu.
            — Alguns acreditam nisso — Octavian corrigiu. — Infelizmente
nossa liderança atual não vai autorizar uma busca para procurar por eles...
            — Porque Reyna não é idiota — Hazel disse.
            — ...então só temos alguns trechos que restaram dos livros —
Octavian continuou. — Algumas predições misteriosas, como essa.
            Ele apontou com o queixo para as inscrições no chão de mármore.
            Percy encarou as linhas de palavras, esperando não entendê-las. Ele quase
ficou chocado.
            — Essa. — Ele apontou, traduzindo enquanto lia em voz alta:

Sete meios-sangues responderão ao chamado.
Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado...

            — É, É. — Octavian terminou sem olhar:


Um juramento a manter com um alento final,
E inimigos com armas às Portas da Morte afinal.

            — Eu... eu conheço essa. — Percy pensou que o trovão estava
sacudindo o templo de novo. Então percebeu que seu corpo inteiro estava
tremendo. — É importante.
            Octavian arqueou a sobrancelha.
            — Claro que é importante. Nós a chamamos de Profecia dos Sete,
mas tem milhares de anos. Não sabemos o que significa. Toda vez que
alguém tenta interpretá-la... Bem, Hazel pode te contar. Coisas ruins
acontecem.
            Hazel olhou para ele.
            — Só leia o agouro para Percy. Ele pode entrar para a legião ou não?
            Percy quase podia ver a mente de Octavian trabalhando, calculando
ou não se Percy seria útil. Ele ergueu a mão para a mochila de Percy.
            — Que espécime bonito. Posso?
            Percy não entendeu o que ele quis dizer, mas Octavian arrancou o
travesseiro de panda do Bargain Mart que estava no topo da bolsa. Ele tinha
uma bela afeição por ele. Octavian se virou na direção do altar e ergueu a
faca.
            — Ei! — Percy protestou.
            Octavian cortou a barriga do panda e derramou a espuma no altar.
Ele atirou a carcaça do panda para o lado, murmurou algumas palavras sobre
a espuma e se virou com um grande sorriso no rosto.
            — Boas notícias! — ele disse. — Percy pode entrar para a legião.
Vamos nomeá-lo em uma Coorte no jantar de hoje à noite. Diga a Reyna que
eu aprovo.
            Os ombros de Hazel relaxaram.
            — Hã... ótimo. Vamos, Percy.
            — Ah, e Hazel — Octavian disse. — Estou feliz em dar as boasvindas
a Percy na legião. Mas quando as eleições para pretor chegarem,
espero que se lembre...
            — Jason não está morto — Hazel respondeu. — Você é o agoureiro.
Era para estar procurando por ele!
            — Ah, eu estou! — Octavian apontou para a pilha de animais de
pelúcia destripados. — Consulto os deuses todo dia! Ai de mim, depois de
oito meses não achei nada. Claro, ainda estou procurando. Mas se Jason não
voltar até a Festa da Fortuna, precisamos agir. Não podemos ter um vazio no
poder por muito tempo. Espero que você me apóie como pretor. Significaria
muito para mim.
            Hazel cerrou os punhos.
            — Eu. Apoiar. Você?
            Octavian tirou a toga, colocando ela e a faca no altar. Percy notou
sete linhas no braço de Octavian — sete anos de acampamento, Percy
adivinhou. A marca de Octavian era uma harpa, o símbolo de Apolo
            — Afinal de contas — Octavian disse a Hazel — devo conseguir te
ajudar. Seria um desperdício se aqueles rumores terríveis sobre você
ficassem circulando... ou, que os deuses proíbam, se eles virassem realidade.
            Percy colocou a mão no bolso e agarrou a caneta. O cara estava
chantageando Hazel. Estava na cara. Um sinal de Hazel, e Percy estava
pronto para acionar Contracorrente e ver como Octavian gostaria de estar do
outro lado de uma lâmina.
            Hazel respirou profundamente. Seus dedos estavam brancos.
            — Vou pensar sobre isso.
            — Excelente — Octavian disso. — Falando nisso, seu irmão está
aqui.
            Hazel enrijeceu.
            — Meu irmão? Por quê?
            Octavian encolheu os ombros.
            — Por que seu irmão faz alguma coisa? Ele está te esperando no
santuário do seu pai. Só... ah, não convide ele para ficar por muito tempo.
Ele tem um efeito perturbador nos outros. Agora, se me der licença, tenho
que continuar procurando pelo nosso pobre amigo perdido, Jason. Prazer em
conhecê-lo, Percy.
            Hazel saiu correndo do pavilhão, e Percy a seguiu. Ele tinha certeza
que nunca esteve tão satisfeito em sair de um templo em toda sua vida.
            Enquanto Hazel descia a colina, ela amaldiçoava em latim. Percy
não entendeu tudo, mas ele pegou filho de uma górgona, cobra sedenta de
poder, e algumas sugestões de onde Octavian podia enfiar sua faca.
            — Odeio esse cara — ela murmurou em inglês. — Se tivesse um
jeito...
            — Ele não vai se eleger para pretor mesmo, vai? — Percy
perguntou.
            — Queria poder ter certeza. Octavian tem um monte de amigos, a
maioria deles comprados. O resto dos campistas tem medo dele.
            — Tem medo de um carinha magrelo?
            — Não o subestime. Reyna não é tão ruim, mas se Octavian
compartilhar seu poder... — Hazel tremeu. — Vamos ver meu irmão. Ele vai
querer te conhecer.
            Percy não discutiu. Ele queria conhecer esse irmão misterioso, talvez
descobrir algo sobre Hazel — quem era seu pai, que segredo ela estava
escondendo. Percy não podia acreditar que ela tinha feito alguma coisa para
ser culpada. Ela parecia tão legal. Mas Octavian tinha agido como se
soubesse de alguma coisa de primeira sobre ela.
            Hazel levou Percy para dentro de uma cripta preta ao lado da colina.
De pé na frente dela estava um adolescente em jeans preto e jaqueta de
aviador.
            — Ei — Hazel chamou. — Te trouxe um amigo.
            O garoto se virou. Percy teve outro daqueles flashes estranhos: como
se fosse alguém que ele devesse conhecer. O garoto era quase tão pálido
quanto Octavian, mas com olhos escuros e cabelo preto bagunçado. Ele não
se parecia com Hazel. Ele usava um anel de caveira de prata, um cinto de
corrente e uma camisa preta com desenho de caveira. Do seu lado pendia
uma espada preta.
            Por um microssegundo quando viu Percy, o garoto pareceu chocado
— em pânico, como se tivesse sido pego por um holofote.
            — Esse é Percy Jackson — Hazel disse. — Ele é um cara legal.
Percy, esse é meu irmão, o filho de Plutão.
            O garoto recuperou a compostura e levantou a mão.
            — Prazer em conhecê-lo — ele disse. — Sou Nico di Angelo.

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