quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Filho de Netuno II

Capítulo II
 Parte UM


UMA ÚNICA COISA QUANDO ESTIVER DESPENCANDO a 80 km/h
em uma bandeja de petiscos – se perceber que é uma má idéia quando se está
na metade do caminho, já é tarde demais.
             Percy por pouco escapou de uma árvore, raspou numa pedra e girou
trezentos e sessenta graus se atirando em direção à rodovia. A estúpida
bandeja de petiscos não tinha direção hidráulica. Ele ouviu as irmãs
górgonas gritando e um vislumbre do cabelo de coral de Euryale no topo da
colina, mas não teve tempo para se preocupar com isso. O telhado do
apartamento pairava abaixo dele como a proa de um navio de batalha.
Colisão frontal em dez, nove, oito...
             Ele conseguiu girar para o lado para evitar quebrar as pernas no
impacto. A bandeja deslizou pelo telhado e velejou pelo ar. A bandeja foi
para um lado. Percy foi para o outro.
             Enquanto caía na direção da rodovia, uma cena horrível passou pela
sua mente: seu corpo sendo esmagado contra o pára-brisas de um carro
esportivo, algum suburbano irritado tentando empurrá-lo com os limpadores.
Garoto idiota de dezesseis anos caído do céu! Estou atrasado!
             Milagrosamente, uma rajada de vento soprou de um lado – o
suficiente para tirá-lo da rodovia e cair em um amontoado de arbustos. Não
foi uma aterrissagem suave, mas era melhor que o asfalto.
             Percy grunhiu. Ele queria ficar ali e desmaiar, mas tinha que
continuar em movimento.
             Ele lutou para ficar de pé. Suas mãos estavam arranhadas, mas
nenhum osso parecia estar quebrado. Ele ainda tinha a mochila. Em algum
lugar da viagem de trenó ele havia perdido a espada, mas Percy sabia que
reapareceria a qualquer hora em seu bolso na forma de caneta. Era parte de
sua magia.
             Ele olhou para a colina. Era difícil de perder as górgonas, com os
cabelos coloridos de cobra e as vestes verdes brilhantes do Bargain Mart.
Elas estavam descendo o declive, mais lentas que Percy, mas com um pouco
mais de controle. Aqueles pés de galinha deviam ser bons em escalada.
Percy supôs que talvez tivesse cinco minutos antes de elas o alcançarem.
             Perto dele, uma alta cerca de arame separava a rodovia de uma
vizinhança de ruas sinuosas, casas confortáveis e árvores de eucalipto. O
arame provavelmente estava lá para impedir as pessoas de irem no meio da
rodovia e fazerem coisas idiotas – como esquiar em uma bandeja pela pista –
mas as correntes estavam cheias de buracos. Percy podia facilmente entrar
na vizinhança. Talvez ele pudesse encontrar um carro e dirigir para oeste
para o oceano. Ele não gostava de roubar carros, mas nas últimas semanas,
em situações de vida e morte, ele havia “emprestado” vários, inclusive uma
viatura policial. Ele iria devolvê-los, mas os carros nunca duraram muito
tempo.
             Ele olhou para o leste. Bem como havia adivinhado, uma centena de
metros da rodovia cortava a base do penhasco. Duas entradas de túneis, um
para cada direção do tráfego, o encaravam como duas órbitas de uma caveira
gigante. No meio, onde estaria o nariz, uma parede de cimento se sobressaía
da colina, com uma porta de metal, como a entrada de uma carvoeira.
             Devia ser um túnel de manutenção. Isso é provavelmente o que os
mortais pensariam se notassem a porta, de qualquer forma. Mas eles não
podiam ver através da Névoa. Percy sabia que a porta era mais que isso.
             Duas crianças de armadura flanqueavam a entrada. Elas vestiam uma
mistura bizarra de elmos romanos, couraças, bainhas, jeans, camisetas roxas,
e tênis de atletismo branco. O guarda da direita parecia uma garota, era
difícil de ter certeza com toda aquela armadura. O da esquerda era um cara
baixo e forte com um arco e aljava nas costas. Os dois seguravam bastões de
madeira com pontas de ferro, como arpões à moda antiga.
             O radar interno de Percy silvava como louco. Depois de tantos dias
horríveis, ele finalmente havia chegado à sua meta. Seus instintos diziam que
se passasse pela porta, devia encontrar segurança pela primeira vez desde
que os lobos que o tinham mandado para o sul.
             Então por que ele sentia tanto medo?

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