quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Filho de Netuno II

Capítulo II
Parte Três


 — Detenção? — Percy perguntou.
             — Roma, criança. — A senhora disse. — Roma.
             Percy não tinha certeza que havia ouvido certo. Verdade, sua
memória se fora. Seu cérebro não se sentia bem desde que havia acordado na
Casa dos Lobos. Mas ele tinha certeza absoluta que Roma não ficava na
Califórnia.
             Eles continuaram correndo. A luz no fim do túnel ficou mais
brilhante, e finalmente saíram à luz do sol.
             Percy congelou. Sobre seus pés estava um vale em forma de tigela
de vários metros de largura. O chão do vale estava repleto de pequenas
colinas, planícies douradas e trechos de floresta. Um pequeno rio claro
desaguava em um lago no centro e ao redor do perímetro.
             Devia ser em algum lugar ao norte da Califórnia – carvalhos vivos e
árvores de eucalipto, colinas douradas e céu azul. Aquela montanha grande
do interior – como era chamada, Monte Diablo? – ascendia à distância, bem
aonde devia estar.
             Mas Percy sentiu como se tivesse entrado em um mundo secreto. No
centro do vale, abrigado pelo lago, estava um cidadezinha de edifícios de
mármore branco com telhados de telha vermelha. Alguns tinham abóbadas e
arcadas de colunas, como monumentos nacionais. Outros pareciam palácios,
com portas douradas e jardins largos. Ele podia ver uma praça com colunas
independentes, fontes e estátuas. Um coliseu romano de cinco andares
brilhava no sol, perto de uma longa arena oval como uma pista de corrida.
             Do lado sul, outra colina estava dotada com mais prédios
impressionantes – templos, Percy adivinhou. Várias pontes de pedra
atravessavam o rio como se atravessassem o vale, e no norte uma longa linha
de arcos estendidos nas colinas rumo à cidade. Percy achou que parecia um
trilho de trem elevado. Então ele percebeu que devia ser um aqueduto *(Canal
subterrâneo ou fora do solo, feito para conduzir água de um lugar para outro.).
             A parte mais estranha do vale estava logo abaixo dele. A cerca de
trezentos e vinte metros, do outro lado do rio, estava algum tipo de
acampamento militar. Tinha cerca de um quilômetro quadrado, com
muralhas térreas por todos os quatro lados, os topos alinhados com espigões
afiados. Do lado de fora das paredes corria um fosso, também repleto de
espigões. Torres de vigia de madeira ascendiam de cada canto, tripuladas por
sentinelas com bestas * (Arma Popular na Idade Média. Constava de um arco curto
e duro, montadoatravessado na extremidade de um cepo. Também conhecido como
balestra.) enormes. Faixas roxas estavam penduradas nas torres.
Um portão aberto no lado distante do acampamento, levando na direção da
cidade. Uma porta mais estreita estava fechada à margem do rio. Dentro, a
fortaleza fervilhava de atividades: dúzias de crianças indo e voltando de
quartéis, carregando armas, polindo armaduras. Percy ouviu o barulho de
martelos na forja e cheiro de carne cozinhando na fogueira. Algo naquele
lugar parecia muito familiar, mas nem tanto.
             — Acampamento Júpiter. — Frank disse. — Estaremos a salvo
assim que...
             Passos ecoaram no túnel atrás deles. Hazel saiu na luz. Ela estava
coberta com poeira de pedra e ofegando. Ela tinha perdido o elmo, então seu
cabelo encaracolado caía pelos ombros. Sua armadura tinha longas marcas
de corte na frente pelas patas de uma górgona. Um dos monstros tinha
marcado-a com uma etiqueta de 50% de desconto.
             — Eu as atrasei um pouco, — ela disse. — Mas estarão aqui em
segundos.
             Frank amaldiçoou.
             — Temos que atravessar o rio.
             Juno apertou o pescoço de Percy com mais força. — Ah, sim,
obrigada. Não posso molhar meu vestido.
             Percy mordeu sua língua. Se essa senhora era mesmo uma deusa, ela
devia ser a deusa do mau cheiro, do peso ou dos hippies inúteis. Mas ele já
tinha chego tão longe. Seria melhor mantê-la por perto.
             É uma gentileza, ela havia dito. E se não fizer isso, os deuses
morrerão, o mundo que conhecemos perecerá, e todos de sua antiga vida
serão destruídos.
             Se fosse um teste, ele não podia tirar um zero.
             Cambaleou algumas vezes enquanto corria para o rio. Frank e Hazel
o seguiram. Eles chegaram à margem do rio, e Percy parou para recuperar o
fôlego. A correnteza era rápida, mas o rio não era muito profundo. Só uma
rocha estava atravessando na direção dos portões da fortaleza.
             — Vai, Hazel. — Frank tirou duas flechas de uma vez. — Escolte
Percy para a entrada em segurança. É minha vez de segurar esses caras.
             Hazel assentiu e foi para a margem. Percy começou a seguir, mas
algo o fez hesitar. Geralmente ele adorava a água, mas esse rio parecia...
Poderoso, e não necessariamente amigável.
             — O Pequeno Tibre. — Disse Juno simpática. — Flui com o poder
do Tibre original, rio do império. É sua última chance de voltar, criança. A
marca de Aquiles é uma benção grega. Não pode contê-lo se entrar no
território romano. O Tibre vai lavá-lo.
             Percy estava muito exausto para entender tudo aquilo, mas pegou o
ponto principal.
             — Se eu atravessar, não vou mais ter pele de ferro?
             Juno sorriu. — Então o que vai ser? Segurança, ou um futuro de dor,
possivelmente?
             Atrás dele, as górgonas gritaram enquanto voavam do túnel. Frank
deixou as flechas voarem.
             Do meio do rio Hazel gritou:
             — Percy, vem logo!

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